Ativistas do Nordeste no Seminário Regional do PAS |
A elaboração de um diagnóstico regional
sobre os riscos das propostas impositivas de assistência às pessoas vivendo com
HIV e aids (PVHA) na Atenção Básica (AB) foi definida principal meta pelos ativistas
reunidos no Seminário Regional Nordeste do Projeto Advocacy em Saúde (PAS),
realizado na semana passada em Recife. Uma comissão formada por ativistas de
Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco vai criar um instrumento para a
coleta dos dados.
Como nos demais seminários do PAS, a
agenda da aids e dos Direitos Humanos também será levada aos Conselhos
Estaduais de Saúde dos nove estados do nordeste. Em municípios com Conselhos de
Saúde, como Fortaleza, Ilhéus e Natal, o tema deverá ser pautado. Conselhos
municipais da Juventude, da Mulher, das Cidades e LGBT também serão
sensibilizados para a pauta.
No legislativo, frentes parlamentares
municipais de enfrentamento às DST/AIDS/HV em Olinda, Teresina e Fortaleza
devem ser fortalecidas. No âmbito estadual, na Bahia, em Pernambuco, no Piauí e
Rio Grande do Norte as frentes devem ser rearticuladas.
O compromisso dos ativistas presentes
foi firmado após uma troca de experiências em incidência política que retratou
um contexto regional de violação de direitos humanos às PVHA e de denúncia ao
Ministério Público Federal, em Pernambuco – onde não são realizados
procedimentos de lipodistrofia – e em Sergipe – onde “nem há preenchimento
facial”. Mas no Piauí, há. Porém, “o hospital de doenças tropicais só faz o
procedimento facial”, diz um ativista piauiense, que relata falta de
antirretrovirais “devido a problemas de administração na grade de medicamentos”.
Mas em Alagoas, segundo outro ativista,
“os canais de TV abertos do legislativo têm sido ocupados pelo movimento social”,
que promoveu seminário com partidos políticos para a inclusão das demandas do
movimento LGBT e das PVHA nos planos de governo. Além disso, “o Conselho de
Saúde aprovou a realização do Encontro Regional de ONG/aids (Erong-NE)”, afirmou
o ativista Igo Nascimento.
Problemas na articulação do fórum de ONG/aids,
uma frente parlamentar que “ensaia mas não acontece” e preservativos masculinos
distribuídos apenas na festa de São João foram alguns dos entraves apontados na
Paraíba. Em Pernambuco, o Hospital Correa Picanço armazenou preservativos
femininos, que não foram disponibilizados à população. No Maranhão, a
Defensoria Pública foi acionada para resolver a falta de medicamentos. Em São
Luís, um SAE adolescente foi implantado após atuação da Promotoria Pública, que
também garantiu isenção tarifária às PVHA na capital do Estado.
Desmantelamento
da assistência
No Ceará, desde o início do ano a assistência
especializada vem sofrendo com o fechamento de três Serviços de Atendimento
Especializado (SAE) e as ONGs, que há 14 anos estão instaladas em um local
cedido pela Prefeitura, foram despejadas, segundo o relato de Vando Oliveira,
coordenador do Fórum de ONG/aids do Ceará. Em Fortaleza, os serviços de
referência municipais foram fechados e “1800 pessoas com HIV foram transferidas
e distribuídas para os serviços da atenção básica”. Segundo o ativista, o
convidado a falar no Conselho Estadual de Saúde, o Secretário de Saúde não
compareceu a três sessões do órgão de controle social.
Na Bahia, para o conselheiro de saúde Moysés
Toniolo, “há um desmonte na política estadual de aids. Houve um desfinanciamento
da política, com o aumento de 26 para 41 municípios”, sem aumento de recursos
para os incorporados à política. Segundo ele, além da atual crise de falta dos
ARV ritonavir e tenofovir na capital e interior do estado, há um clima de perseguição
política de ativistas em HIV/AIDS. “Conselheiros estão sendo desqualificados em
suas atribuições e conhecimentos”. Também na Bahia no nome social de travestis
e transexuais não era respeitado até a Defensoria pública “comprar a briga do
nome social no registro de nascimento e no documento de identidade”, salientou
uma ativista.
Em Recife, o Seminário Regional do PAS teve a
presença de François Figueroa, coordenador do Programa Estadual de DST/AIDS de
Pernambuco. Para ele, o PAS é importante porque contribui para “resolver a
questão da aids no Brasil”. Segundo o coordenador pernambucano de combate à
aids, para isso seria necessário “que a sociedade seja menos excludente, que
haja mais educação, menos homofobia e uma visão mais ampla das coisas”. Também
esteve presente a enfermeira Valéria Menezes, coordenadora do Programa de
DST/AIDS de Recife, que deu boas vindas aos participantes.
Na edição nordestina dos seminários regionais do
PAS, Alessandra Nilo falou sobre advocacy em âmbito
federal. A coordenadora da
ONG Gestos elencou diversos pontos que devem ser verificados o exercício de um
advocacy substancial, relevante. O ex-representante do movimento de aids no
Conselho Nacional de Saúde, Alexandre Magno falou sobre o SUS e as ações em
DST/AIDS e Direitos Humanos nos Conselhos de Saúde no âmbito da Lei nº
8.142/90.
Magno: "os DH são violados ao adentrar pelo SUS" |
O Projeto Advocacy em Saúde é financiado pela
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde ao Fórum das ONG/AIDS
do Estado de São Paulo. O Seminário Regional Nordeste do PAS teve o apoio da
Coordenação Estadual de DST/Aids de Pernambuco, da Coordenação Municipal de
DST/Aids de Recife e da ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero.
Desde o dia 31 de julho e durante todo o mês de
agosto o PAS vem promovendo uma jornada de seminários regionais por todo o País.
O quinto e último seminário será realizado nesta sexta e sábado, em Belém, no Estado
do Pará, para ativistas da Região Norte.
Na região Norte, o PAS é coordenado pelo
ativista Kiko Rodrigues, do GAPA Pará. Em Belém, o Seminário Regional Norte do
PAS tem apoio da Coordenação da Coordenação Municipal de DST/AIDS de Belém, da
Coordenação Estadual de Hepatites Virais do Pará e do Grupo Paravidda.
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